É preciso uma grande força e coragem para nos permitirmos ser vulneráveis. Porquê? Talvez porque vivemos num mundo que valoriza demais a segurança, a eficácia, a positividade, e de certo modo, rejeita a vulnerabilidade, porque é vista como fraqueza. Renunciar às defesas e aparente perfeição, significa vivermos com toda a plenitude do nosso Ser, com tudo aquilo que somos, onde também há lugar para a vulnerabilidade e imperfeição.
A vulnerabilidade torna-nos sensíveis às nossas necessidades e permite-nos olhar para nós mesmos e os outros, tal como somos/são, pessoas reais e não autómates produtivos da vida moderna.
De alguma forma, a sociedade habituo-nos a navegar pelo universo das aparências, das máscaras com as quais se finge resolução e bom humor quando, por dentro, ainda há medo, insegurança, tristeza e ansiedade. É suposto nesta mesma sociedade “por-se bem”, “resolver-se”, “transformar-se”, “de preferência rápido”, “não se preocupar em demasia”, “pensar-se que passa”, “não se perder nos sentimentalismos e negatividades”, “que é preciso pensar positivo”, ainda que por dentro sabemos que muitas vezes as coisas não estão bem, ou não são bem assim. Pretendendo-se com essas narrativas que se arranjem soluções “rápidas” e “eficazes”, como se a vida e o lidar com as adversidades fosse um relatório que temos de entregar na próxima segunda feira às 9h00 da manhã!
Permitir-se ser vulnerável, é sentir a vida em nós pulsando, ainda que feia e dolorosa, é respeitarmos os ciclos e fases, os processos internos, tantas vezes longos, confusos, dolorosos, cansativos, cheios de incertezas e imprevisibilidades. É sentir a dor, frustração ou tristeza em determinadas circunstâncias que estão para além do nosso controlo, ou inclusive partilhar com os outros que estamos a passar por um momento difícil e que precisamos de um tempo para nós, para refletir, ou de ajuda, isso é natural e recomendável até. Não há nada de errado nisso, nem nos desvalorizamos por saber que a nossa força coexiste com a nossa fragilidade.
“Sou muito grata por me sentir vulnerável, porque significa que estou viva”. René Brown
Vulnerabilidade em nós é o que nos permite também sentirmos as nossas emoções, conectarmo-nos e relacionarmo-nos com elas.
Por isso, a meu ver, corajoso é aquele que se permite sentir, aquele que é capaz de se mostrar com as suas luzes e sombras, com os seus pontos fortes e fracos. Que se permite fragilizar, isto é. Que se permite ser como é na sua inteireza, que mergulha no centro da vida, que está dentro de si.
A vulnerabilidade é também aquilo que nos torna humanos, e mais capazes de aceitarmo-nos a nós e aos outros, como seres singulares e perfeitos na sua imperfeição, com toda a sua riqueza interior.