O problema que temos frequentemente com as emoções é o facto de nos fazerem sentir transbordados por forças que se encontram para além do nosso controlo. E será que perante este panorama inconsciente de reações exageradas ou emoções descontroladas, é possível tornarmo-nos amigos das nossas emoções?
A resposta é sim, tornamo-nos amigos das nossas emoções quando as escutamos e lhes damos espaço para que revelem o significado oculto da sua presença. Podemos imaginar que as nossas emoções são como uma bússola que nos mostra a direção do ambiente em que estamos, e é ao mesmo tempo a nossa reação a esse mesmo ambiente.
Da mesma forma as emoções são uma ferramenta de orientação, que sendo agradáveis ou desagradáveis são sinais que nos dão um feedback sobre o caminho que estamos a seguir. Por exemplo, podemos até ter uma ideia pré-concebida sobre o caminho certo para nós (por ex: um certo estilo de vida e emprego, ter família, etc.) mas com tempo a insatisfação e o vazio podem ser sinais de que talvez o caminho já não seja por aqui, ou que isso já não tem a importância que tinha outrora, e que talvez passe pelo serviço aos outros e encontro consigo mesmo, ou talvez sentimos que nos devemos relacionar de outra forma com vários aspetos da nossa vida. Enfim, os exemplos podem ser vários. Aqui importa destacar que tudo o que fomos construindo para trás, não deixa de ter importância e valor na nossa vida, é natural, no entanto, que os nossos propósitos, valores e prioridades mudem ao longo da vida. É sinal de que estamos a evoluir, e não há nada de estranho e errado nisso, ainda que o pressentir da mudança deixe sempre um perfume de temor e ameaça às estruturas e castelos por nós construídos, que recusamos a abandonar, porque dão a sensação de segurança. Sensação ilusória, diga-se de passagem.
Importa também é que em cada momento sintamos que estamos a ser fiéis a nós mesmos, ao que nos faz sentirmo-nos felizes e gratos por tudo aquilo que já vivemos, e pelo que virá de novo.
Por isso, é tão importante que aprendamos a escutar as emoções, a cheirá-las, a tocá-las e a relacionar-nos com elas, ainda que sejam, por vezes, difíceis de nos confrontarmos, e para o que podemos pedir ajuda. Lutar e resistir contra, por exemplo, tristeza, insatisfação, ansiedade, zanga, desmotivação ou até contra as próprias necessidades, é como não aceitar o pulsar da vida em nós, porque as emoções são expressões energéticas da nossa vida interior. Indicam sempre se há desequilílbrio na nossa vida (ou vida interior).
Se aprendermos a sentir o que estamos a sentir, ao invés de reagir contra isso, condená-lo ou tentar eliminá-lo, e nos aprofundássemos mais nas emoções, talvez pudéssemos aceitar mais plenamente tudo o que a vida nos apresenta.
Afinal de contas, os problemas só são conflituosos quando nos sentimos incomodados com os sentimentos que se ativam no nosso interior.
A questão é, o que nos incomoda tanto em sentir esta ou aquela emoção? É a emoção em si que incomoda porque não é familiar (ou tão familiar) ou é o que implica, se abrirmos a torneira de toda a avalanche de emoções, sentimentos e necessidades que estão contidas, ou escondidas no baú das memórias passadas, perinatais (antes do nascimento) ou quem sabe até de vidas passadas…