“Somos perfeitos na nossa imperfeição”, disse me há uns dias a minha amiga, a propósito de uma conversa sobre o desenvolvimento pessoal.
Uma frase que ressoou profundamente em mim, porque toca na parte mais íntima, e talvez mais autêntica de todos nós, que é a nossa vulnerabilidade; a vulnerabilidade humana; e que muitas vezes, e a todo o custo tentamos rejeitar, com se ela não fizesse parte daquilo que em parte somos, imperfeitos e vulneráveis.
Claro que, a partir do ponto de vista cultural, da sociedade, da comunicação, a vulnerabilidade emocional e inclusivamente física, têm quase um caráter depreciativo e até vergonhoso. O que se espera de nós, e se promove é que sejamos perfeitos, resolvidos, eficazes, fortes, bonitos, bem sucedidos, positivos e corajosos – caso contrário, e se num determinado momento não o conseguimos ser (nem temos que ser!), rotulam e julgam os seres, como “estragados”, “que não prestam”, “fracos”, “coitados”, “incapazes” ou outra coisa que o valha…
Parece-me que esse olhar redutivo e julgador, nada tem de humano e aceitante. Leva a que as pessoas se sintam mal consigo mesmas, porque não estão em conformidade com aquilo que a sociedade espera de si, e porque em determinado momento não o conseguem ser (porque adimitem a dúvida, a insegurança ou o erro), e estão no seu direito e dever, diria, de se permitirem ser como são, em cada momento. De serem o melhor que podem ser, em cada momento.
A vulnerabilidade é outra face da nossa realidade como seres humanos, e como tal merece ser aceite, amada e respeitada. Através da vulnerabilidade conectamo-nos connosco e com os outros de forma profunda. É aquilo que nos torna mais sensíveis às necessidades dos outros, mais empáticos com a dor alheia, no final, mais humanos. Não somos super-homens/mulheres, somos pessoas.
Autores como Martin Heidegger, Stolorow, lembram que a dimensão da vulnerabilidade é necessária e construtiva, porque afinal somos todos “sensíveis, mortais e erráticos”.
É maravilhoso mostrar como podemos ser competentes numa área. No entanto, admitir que às vezes podemos precisar dos outros, que não sabemos tudo, e não somos donos da verdade, é aceitável. Assumir os erros, partilhar a dor, frustração ou tristeza em determinadas circunstâncias que estão para além de nós, ou que precisamos de um tempo, também é aceitável, saudável e recomendado! Não perdemos valor por assumir que a nossa força coexiste com a nossa fragilidade.
Como diz a Brené Brown, “a vulnerabilidade é o berço do amor, da pertença, da alegria, da coragem, da empatia e da criatividade”. Porquê então rejeitar ser imperfeito – humano?
Talvez, a infelicidade esteja, em quem nunca se permitiu sentir triste ou zangado, ou quem nunca se atreveu de se abrir para alguém para partilhar o que lhe vai na alma, para sentir a dor ou a felicidade do outro. Ou talvez a morada da infelicidade esteja mascarada pelo desejo de mostrar aos outros a sua competência absoluta, dureza de caráter, inflexibilidade ou incapaciade de se por em questão, ou assumir os erros.
Talvez o corajoso seja aquele que reconhece as suas luzes e sombras, os seus pontos fortes e fracos. Ou o que cai quando já não aguenta mais e se levanta quando é o momento certo.
A vulnerabilidade torna-nos humanos. Torna-nos capazes de nos aceitar a nós mesmos e aos outros com todo o seu universo e riqueza interiores.
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