A lenda da viagem marítima noturna fala sobre a história de Jonas, que Deus enviou à cidade de Nínive para avisar os seus habitantes de que o comportamento deles lhe estava a desagradar, mas Jonas não cumpriu a ordem.
Fugiu de barco para a cidade de Társis. Levantou-se uma tempestade, e os marinheiros descobriram que Jonas estava a fugir da sua missão. Para se salvarem, lançaram-no ao mar. Jonas foi engolido por um enorme peixe, e ficou dentro dele três dias e três noites até ser cuspido para a terra. Deus voltou a dar-lhe a mesma ordem e, dessa vez, Jonas cumpriu-a.
À semelhança da história de Jonas, na nossa noite escura da alma (um momento da vida em que somos confrontados com tristeza, provação, frustração…) talvez tenhamos a sensação “oceânica” de estarmos perdidos algures no mar ou “engolidos” por forças que não conseguimos controlar. Nesse mar, e se nele mergulharmos fundo, podemos reencontrar o enorme potencial de vida, mas também a nossa noite escura, que pode forçar-nos a abdicar de alguns conhecimentos que adquirimos. É útil destruirmos com regularidade os padrões do nosso ego, antigas formas de funcionarmos, pensarmos e vivermos, reciclarmos camadas do nosso velho eu, para nos transformarmos e atualizarmos ao longo da vida. Assim permitimo-nos evoluir, crescer e irmos ao encontro do que é essencial para nós.
Nessa viagem noturna, encontramos o rumo, atravessando as intempéries, quando abrimos o coração e nos deixamos levar com confiança pela viagem. Há quem diga que nas noites escuras da alma somos guiados pelos Céus para reencontrar a alma e profundidade.
Por isso, entendo que as noites escuras da alma, não são regressões no nosso bem-estar e sabotadores da felicidade (ainda que possam trazer dor, sem dúvida), mas são um regresso às nossas origens, são uma forma de nos afastarmos do campo de batalha da existência, recordarmos a essência da vida, natureza, a nossa própria identidade, resgatarmos criatividade, separarmos o trigo do joio.
Podemos estar tão influenciados pelas exigências atuais de progredir a qualquer custo que deixamos de apreciar o valor de regredir. No entanto, regredir é, de certa forma, regressarmos às origens. Thomas Moore